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BC: a discordância por trás da unanimidade


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Créditos da Imagem: Beto Nociti/BCB


No último dia 20, o Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, reuniu-se para deliberar sobre a taxa básica de juros da economia brasileira, a taxa Selic. Um leitor obstinado que persista através de algumas páginas de linguagem técnica encontrará, no último parágrafo, o voto de cada membro do comitê. A decisão mais recente foi unânime: reduzir em 0.5% a taxa Selic.


Tradicionalmente, há uma costura política dentro de qualquer Banco Central entre o presidente e os diretores para que se consiga chegar a um consenso. Alguns, como o Fed, o Banco Central americano, fazem isso com maestria. Já outros, como o Banxico, do México, ou o Banco da Inglaterra, têm tradicionalmente um número maior de dissensos por reunião.


No caso do Brasil, votos contrários são raros e, no passado, por vezes não identificados. Entretanto, a penúltima decisão do Copom, no começo de agosto, foi marcada por uma divisão bastante emblemática. O corpo técnico, mais alinhado com o pensamento do setor privado, votou a favor de começar o ciclo de cortes da taxa de juros de maneira conservadora, reduzindo 0.25%. Do outro lado, o grupo capitaneado por servidores de carreira da instituição, tradicionalmente mais sensíveis a pressões políticas externas, queriam um corte mais arrojado, de 0.5%. O voto de minerva ficou a cargo do presidente Roberto Campos Neto, que, em um movimento surpreendente, optou por um movimento mais agressivo.


Decisões em economia raramente possuem apenas uma resposta certa, mas dado o contínuo discurso de cautela antes da reunião, era de se esperar que o presidente se aliasse ao lado mais conservador. A forte divisão, dessa forma, parece sugerir uma elaborada manobra política do presidente do Banco Central. Ao se aliar ao corte mais agressivo, se contrapondo ao corpo acadêmico, Roberto Campos pareceu sugerir que a redução de 0.5% era o limite que o Banco Central estaria disposto a acelerar neste ciclo.


A sinalização parece ter sido corroborada pela decisão de setembro. Ao fazer isso, Roberto Campos se esforça para cair nas graças do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e faz uma concessão à ala política do PT que rotineiramente criticavam a instituição pelas altas taxas de juros.


Estaria a independência do BC ameaçada? Por ora não. Roberto Campos ainda possui dois anos de mandatos assegurados pela recente lei que lhe garante a independência. Entretanto, a jogada mostra que o Banco Central ainda não está completamente livre das influências políticas. A consequência mais pessimista sugere que seu sucessor, pois RCN certamente será trocado, será ainda mais sensível às demandas do Planalto.


Não bastasse o risco de um Banco Central novamente subserviente aos interesses cinzentos do governo, como foi Tombini durante o governo Dilma, o cenário externo se mostra bem mais desafiador do que em 2011 e 2012.


Nos Estados Unidos, o Fed, o banco central americano, continua sua batalha para controlar a inflação. Além disso, o rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Fitch, ocorrido recentemente, acendeu o alerta sobre o risco fiscal que vai se formando nos países desenvolvidos. Combinados, esses fatos pressionam as taxas de juros nos Estados Unidos, que seguem renovando máximas não vistas desde antes da crise de 2008.


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Um cenário em que as taxas de juros caminham para ser permanentemente mais altas no norte global aumenta o risco de uma desvalorização cambial frente à uma política monetária brasileira excessivamente frouxa. E uma desvalorização cambial alimentaria, por sua vez, um novo ciclo inflacionário.


Ao mesmo tempo, o preço do petróleo apresentou forte aceleração, ultrapassando a marca de US$100/barril. Países da OPEC parecem ter retomado sua capacidade de manipular os preços internacionais agora que as reservas estratégicas americanas praticamente se esgotaram e o próprio Estados Unidos se vê obrigado a recomprar.

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O mundo pós-Covid, no qual existem riscos geopolíticos e taxas de juros estruturalmente mais altas, certamente não será complacente com conduções equivocadas de política monetária de países emergentes. Roberto Campos tem tudo sobre controle, por enquanto.


 
 
 

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