PCC usou fintech para financiar campanhas políticas, movimentando R$ 8 bi em São Paulo
- Núcleo de Notícias

- 2 de set. de 2024
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Polícia Civil descobre esquema em que banco clandestino apoiava candidatos em cidades estratégicas do estado
Conversas obtidas pela Polícia Civil entre João Gabriel Yamawaki e Fabiana Lopes Manzini. Imagem: Polícia Civil de Mogi das Cruzes
A Polícia Civil de Mogi das Cruzes está investigando um complexo esquema de financiamento ilegal de campanhas políticas em São Paulo, operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com as autoridades, cerca de R$ 8 bilhões foram movimentados por meio de uma fintech e 19 empresas, com o objetivo de apoiar candidaturas em várias cidades do estado.
Como funcionava o esquema
A operação, liderada pela delegacia de Mogi das Cruzes, identificou movimentações financeiras suspeitas entre 20 empresas, incluindo um banco criado pelo PCC para lavar dinheiro e financiar candidatos. A instituição financeira, semelhante a uma fintech, tinha sede na Grande São Paulo e foi utilizada para beneficiar ao menos três candidatos nas cidades de Mogi das Cruzes, Ubatuba e Santo André.
A investigação começou a partir de um caso de tráfico de drogas e resultou no bloqueio de bens e valores ligados ao esquema. Em junho de 2023, a polícia teve acesso ao celular de Fabiana Lopes Manzini, esposa de Anderson Manzini, um membro antigo do PCC. Fabiana, que teria assumido o comando das atividades criminosas de seu marido preso, recebia instruções de João Gabriel de Mello Yamawaki, primo de Anderson, para direcionar os recursos financeiros para campanhas políticas.
A atuação do "banco do crime"
Yamawaki, parte do núcleo financeiro do PCC, decidiu abrir um banco clandestino com o intuito de maximizar os lucros da facção. A instituição financeira, chamada 4TBank, operava há cinco anos sem autorização do Banco Central e tinha movimentado R$ 600 milhões no período, apenas no CNPJ registrado em Mogi das Cruzes. A fintech ainda operava com outros dois CNPJs em São Paulo e Palmas, no Tocantins.
Cidades estratégicas para o crime
Mogi das Cruzes, localizada a 57 km da capital paulista, se tornou uma das bases para o PCC infiltrar-se na política local. Yamawaki, que residia em um condomínio de luxo na cidade, mantinha um relacionamento com Marie Sasaki Obam, que chegou a se candidatar a vereadora, mas desistiu após as investigações. Além disso, a filha de Marie estava registrada como dona de oito empresas, utilizadas para lavagem de dinheiro.
Em Santo André, o PCC apoiava a candidatura de Thiago Rocha, filiado ao PSD, que atualmente é suplente de vereador. A polícia suspeita que ele tenha sido indicado por Yamawaki para trabalhar na Prefeitura de Mogi das Cruzes. Em Ubatuba, Yamawaki tentou lançar sua irmã como candidata a vereadora, buscando ampliar a influência da facção na política local.
Expansão do crime e o Porto de Santos
O interesse do PCC por Ubatuba também se deve à sua proximidade com o Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, e ao fato de possuir um aeroporto próprio. A facção estaria migrando suas operações para a cidade em resposta ao aumento da fiscalização no Porto de Santos.
Bloqueio financeiro e próximos passos
A investigação teve início com a prisão de Fabiana Manzini por suspeita de tráfico de drogas. As mensagens interceptadas em seu celular revelaram o plano do PCC de infiltrar-se na política para obter contratos e licitações públicas. O delegado Waldir Covino, da Seccional de Mogi das Cruzes, afirmou que o foco agora é mapear a extensão da influência do PCC na política municipal e estadual, além de investigar a ligação de Yamawaki com outros candidatos e partidos políticos.




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