Na União Europeia, ventos fracos e verão forte pressionam retorno à geração de energia fóssil
- Núcleo de Notícias
- 9 de jul.
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A queda na geração eólica, força o continente a recorrer ao carvão e ao gás

O continente europeu se vê diante de um complexo dilema energético, com a perspectiva de uma maior dependência de combustíveis fósseis nos próximos meses. Carvão e gás emergem como soluções emergenciais para preencher um vazio iminente, causada principalmente pela expectativa de uma redução drástica na geração de energia eólica e pela crescente demanda gerada pelas ondas de calor. Esse cenário, embora pontual, pode resultar em um aumento nos preços da eletricidade e, consequentemente, nas emissões de carbono, colocando à prova a resiliência da transição energética.
Estimativas apontam para uma queda de 40% na energia eólica para os meses de julho e agosto deste ano. Em resposta a essa previsão, a produção de usinas a carvão em mercados como Alemanha, França e Espanha deve registrar um aumento de 50% em julho, em comparação com o mês anterior. Esse movimento sublinha a importância contínua das usinas tradicionais, mesmo após décadas de investimentos maciços e esforços consideráveis para expandir o setor de energias renováveis. A intermitência das fontes como a eólica e a solar, que atingiu recordes de geração em junho, ainda representa um desafio, uma vez que não existe um método eficaz e em larga escala para armazenar toda a eletricidade produzida nesses períodos de abundância para uso em momentos de menor produção ou alta demanda. A capacidade de armazenamento por baterias, embora tenha dobrado no último ano, ainda é insuficiente para as vastas necessidades do continente.
Eletricidade mais cara em meio ao calor extremo
Nas últimas semanas, a Europa tem enfrentado ondas de calor intensas, com temperaturas que se aproximam dos 40°C em algumas regiões. Esse clima extremo intensifica drasticamente a demanda por energia, especialmente para sistemas de refrigeração. Um exemplo perceptível ocorreu em 1º de julho, quando os preços da eletricidade em Paris dispararam para € 557,34 por megawatt-hora, quase nove vezes o valor do período de menor demanda do dia. Durante essa onda de calor, os preços diários médios aumentaram 175% na Alemanha, 108% na França e 106% na Polônia. Em países como a Espanha, a demanda diária de energia cresceu até 14%, enquanto na Alemanha e na França, os aumentos foram de 6% e 9%, respectivamente.
Esse cenário, onde a "calmaria dos ventos" coincide com o calor escaldante, força a dependência dos combustíveis fósseis para suprir a demanda. Embora a geração eólica tenha alcançado um recorde em junho na Alemanha e no Reino Unido, a queda esperada para julho remete a situações vividas no último inverno e primavera, quando a produção eólica ficou aquém do esperado, exigindo que as usinas a carvão e gás intensificassem suas operações para garantir o abastecimento e a estabilidade da rede. Apesar do estresse, as redes elétricas europeias têm se mantido estáveis, beneficiadas em parte pela alta produção solar diurna.
Como resultado direto desse cenário, as emissões de carbono das usinas da União Europeia podem registrar um aumento de 14% neste mês, em comparação com o mês anterior. Embora o setor de energia da UE tenha demonstrado uma importante redução nas emissões de CO2 em 2024 - com a geração a carvão caindo para menos de 10% da matriz energética pela primeira vez em décadas -, o recente aumento na queima de combustíveis fósseis pode temporariamente reverter essa tendência positiva. Os contratos futuros de energia na Alemanha já refletem essa incerteza, sendo negociados a valores significativamente mais altos do que os registrados antes da escalada da demanda por refrigeração.
Apesar dos desafios atuais, a Europa continua a avançar em sua transição energética, com a capacidade instalada de energias renováveis aumentando em mais de 90 GW em comparação com o verão anterior, liderada pela energia solar. No entanto, a situação atual ressalta a necessidade urgente de investimentos em soluções de armazenamento de energia e em uma infraestrutura de rede mais flexível para garantir a estabilidade do fornecimento e reduzir a dependência de fontes mais poluentes, especialmente diante de condições climáticas cada vez mais imprevisíveis.
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