ONG ligada a sindicato petista recebe R$ 15 milhões para "limpar" Terra Yanomami
- Núcleo de Notícias

- 27 de mai.
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Contrato firmado no apagar das luzes de 2023 levanta suspeitas sobre repasse milionário sem metas claras e sem execução imediata

O governo federal repassou R$ 15,8 milhões a uma ONG vinculada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para executar um projeto de retirada de lixo da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Há uma série de inconsistências na contratação, feita pelo Ministério do Trabalho através da Secretaria de Economia Popular e Solidária, liderada por Gilberto Carvalho — histórico aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entidade beneficiada é a Unisol, uma ONG que atua a partir de uma modesta sala de 40 m² no subsolo do sindicato em São Bernardo do Campo (SP). Dois dos seus dirigentes, Carlos José Caramelo Duarte e Arildo Mota Lopes, têm ligações diretas com o Sindicato dos Metalúrgicos e são filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT), o que acentua os questionamentos sobre favorecimento político.
Apesar das ações em campo só estarem previstas para o segundo semestre deste ano, o valor total do contrato foi integralmente depositado na conta da Unisol em 31 de dezembro — apenas três dias após a assinatura do convênio. A justificativa do governo é a “urgência humanitária”.
No processo seletivo, participaram dez ONGs, das quais apenas duas foram escolhidas: a Unisol, que ficou com a maior parte dos recursos, e a CEA, uma entidade de Brasília que receberá R$ 4,2 milhões, dos quais apenas uma parcela foi liberada até agora.
Além do pagamento antecipado e da demora para iniciar os trabalhos, o contrato apresenta lacunas graves: não há exigência de meta mínima de lixo a ser recolhido, ainda que o próprio Ministério do Trabalho estime a existência de ao menos 70 toneladas de plástico na região. O projeto também prevê a subcontratação de serviços como limpeza, contabilidade, coordenação e assessorias diversas, ampliando as margens para opacidade na gestão dos recursos.
Outro dado preocupante é que, dos cinco avaliadores responsáveis por julgar os projetos, apenas dois registraram comentários sobre os critérios adotados, e houve divergências até sobre a qualificação dos profissionais envolvidos.
Após a repercussão negativa, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC divulgou nota afirmando que a Unisol possui autonomia política, administrativa e financeira, embora tenha sido criada por iniciativa da própria entidade sindical.
O caso reforça a percepção de que o governo Lula utiliza verbas públicas para beneficiar organizações alinhadas ideologicamente. A ausência de metas claras, a rapidez incomum no pagamento e os vínculos partidários da ONG levantam dúvidas legítimas sobre o verdadeiro propósito do contrato.



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