Entrevista com Carlos Dias: o alerta sobre a dívida pública e as soluções para a economia brasileira
- Núcleo de Notícias
- 18 de jul.
- 5 min de leitura

Carlos Dias, presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e autor de 7 livros, é uma voz influente no cenário brasileiro. Sua formação densa em administração, direito e economia, somada a extensões em diplomacia e relações internacionais e economia global, alicerça sua atuação. Com vasta experiência nos setores público (deputado, secretário) e privado (executivo de grandes empresas), ele é um defensor ativo do livre mercado e dos direitos fundamentais da pessoa humana. Sua expertise transcende fronteiras, ministrando palestras e consultorias internacionais sobre política, segurança e economia. Reconhecido por análises acuradas e forte engajamento cívico, Carlos Dias é uma figura respeitada nas discussões sobre o futuro do Brasil.
Carlos Dias recebeu a nossa equipe para uma entrevista exclusiva ao portal RumoNews.com.br
Confira a entrevista na íntegra, a seguir:
Rumo News: Carlos Dias, o título do seu recente artigo, “Mercado aponta Brasil sem rumo”, é bastante incisivo. Quais são, em sua análise, os pilares fundamentais que o levaram a essa avaliação tão contundente do cenário econômico brasileiro? O que, precisamente, o mercado entende por essa falta de rumo?
Carlos Dias: A “falta de rumo” reflete uma grave ausência de reformas estruturais, que, somada a um custo Brasil e incerteza regulatória, inibe o investimento produtivo, direcionando capital para o exterior. Há também a persistência inflacionária, com o IPCA acima da meta, corroendo o poder de compra e evidenciando a fragilidade fiscal. Isso mantém a Selic em patamares elevados (15% em 2025), o preço da irresponsabilidade fiscal. Por fim, a postura governamental, com políticas intervencionistas e retóricas de confronto, afasta investimentos e corrói a confiança. Essa é a ausência de uma bússola para solidez fiscal e previsibilidade econômica.
Rumo News: Aprofundando na questão fiscal, seu artigo “O risco da ruptura fiscal” descreve a trajetória do endividamento público como um “risco sistêmico à solvência intertemporal do Estado”. Poderia detalhar como essa dívida pública, em sua configuração atual, ameaça a estabilidade econômica e, mais preocupantemente, compromete as futuras gerações?
Carlos Dias: A dívida pública atual impõe um prêmio de risco oneroso, elevando custos de captação e resultando em crowding-out do investimento produtivo no setor privado. A ausência de disciplina fiscal gera uma dissintonia com a política monetária, onde impulsos fiscais expansionistas desafiam a contenção inflacionária, sinalizando uma preocupante dominância fiscal sobre a autoridade monetária. Para economias emergentes, isso estreita perigosamente a margem de manobra. O mais grave é a transferência desse ônus às futuras gerações, hipotecando seu potencial de desenvolvimento e a capacidade de provisão de serviços públicos essenciais.
Rumo News: Seus artigos destacam a persistência da inflação e a elevação da taxa Selic. Como esses dois elementos estão intrinsecamente ligados à fragilidade fiscal que o senhor descreve, e o que a expectativa do mercado de uma Selic em 15% ao final de 2025 revela sobre a confiança na responsabilidade fiscal do governo?
Carlos Dias: Inflação persistente e Selic elevada são manifestações diretas da fragilidade fiscal e da desconfiança do mercado. A inflação é um sintoma de um governo que gasta sem controle e sem plano de ajuste, alimentando expectativas de desvalorização da moeda. Para combatê-la e ancorar as expectativas, o Banco Central é forçado a manter juros altos. A expectativa de Selic a 15% em 2025 é um grito de alerta, um voto de desconfiança do mercado na responsabilidade fiscal do governo. É o preço da irresponsabilidade fiscal, que encarece o crédito, freia o investimento e sufoca a atividade econômica.
Rumo News: O senhor expressa forte crítica às “políticas intervencionistas” e à “retórica de confronto” do governo. De que maneira esses elementos específicos contribuem para a incerteza econômica e desestimulam o investimento, em oposição ao que o Brasil necessita para um crescimento robusto e sustentável?
Carlos Dias: Políticas intervencionistas, como o dirigismo estatal, distorcem a alocação de recursos e desestimulam a eficiência e a produtividade, pois o sucesso não depende do mérito, mas da proximidade política. Isso gera incerteza regulatória, pois as regras do jogo podem mudar arbitrariamente. A retórica de confronto, seja com o setor produtivo ou instituições autônomas, adiciona ruído e insegurança. Investidores buscam estabilidade e regras claras; quando o diálogo é substituído pela confrontação e os fundamentos econômicos são questionados, o capital se retrai. Isso afasta investimentos, impedindo o crescimento sustentável e aprofundando a percepção de Brasil sem rumo.
Rumo News: O senhor menciona a recente ameaça de tarifas impostas pelos Estados Unidos como um “agravante” ao quadro de vulnerabilidade interna do Brasil. De que forma a atual fragilidade econômica do país o torna particularmente suscetível a choques externos como esse, e quais seriam as implicações para setores-chave e a estabilidade econômica geral?
Carlos Dias: A fragilidade fiscal e a ausência de reformas internas eliminam a resiliência do Brasil a choques externos. Ameaças de tarifas, como a de 50% dos EUA, se tornam exponencialmente perigosas. A alta carga tributária e o custo Brasil já prejudicam a competitividade, e novas barreiras podem inviabilizar nossas exportações. Setores como metais, produtos agrícolas e aço seriam imediatamente afetados, levando a quedas de receita, demissões e redução de produção. A reação do mercado, com dólar em alta, sinaliza também a preocupação com a pressão inflacionária e o desvio de investimentos. A vulnerabilidade fiscal transforma um desafio externo em ameaça existencial.
Rumo News: Diante desse quadro desafiador, o senhor propõe uma saída que passa, invariavelmente, por um “programa econômico pautado pela ortodoxia e pela racionalidade”. Poderia detalhar as medidas fundamentais que o Brasil precisa adotar para reestabelecer sua credibilidade, atrair capital e garantir a prosperidade a longo prazo, incluindo sua visão sobre um patamar saudável para a relação dívida/PIB?
Carlos Dias: A saída é um programa ortodoxo e racional, com responsabilidade fiscal inegociável para reduzir o prêmio de risco e buscar uma dívida/PIB entre 60% e 75%. Isso exige reformas estruturais: administrativa, para um Estado enxuto; tributária, para menor carga e menos distorção; privatização de ativos ineficientes, para liberar capital; e abertura comercial, para maior competitividade. É essencial restaurar a previsibilidade e segurança jurídica, com respeito a contratos e clareza nas políticas. Além disso, a contenção do gasto, um teto de despesas e mecanismos automáticos de ajuste fiscal são mandatórios para restaurar a credibilidade e a sustentabilidade.
Rumo News: Carlos Dias, como presidente do Instituto Democracia e Liberdade, qual é a sua mensagem final para a sociedade brasileira e seus líderes sobre a urgência de uma mudança de paradigma na gestão econômica, não apenas para a estabilidade do país, mas também para salvaguardar os valores democráticos fundamentais que o senhor defende?
Carlos Dias: Minha mensagem é um apelo à razão e ao compromisso com as futuras gerações. A instabilidade econômica prolongada, com inflação e dívida alta, corrói o bem-estar e o potencial do país, criando terreno fértil para o populismo e conspirando contra as liberdades democráticas. Responsabilidade fiscal, reformas estruturais e previsibilidade não são meros termos técnicos, mas alicerces para uma sociedade justa e livre. Precisamos de lideranças que abandonem o imediatismo eleitoreiro e construam consenso em torno de um programa sério, focado no equilíbrio fiscal e no protagonismo da iniciativa privada.
Brasília, 18 de julho de 2025
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