Sustentabilidade na queda dos juros dependerá de choque fiscal positivo, afirma Campos Neto
- Núcleo de Notícias

- 28 de out. de 2024
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Presidente do Banco Central defende que cortes duradouros na Selic exigem confiança fiscal em encontro com investidores em Londres

Em discurso realizado em Londres, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, destacou que uma redução consistente dos juros no país está condicionada a um choque fiscal positivo — uma série de medidas no campo fiscal que transmitam ao mercado confiança nas contas públicas. Ele destacou que, historicamente, períodos de corte de juros sustentáveis ocorreram quando o governo implementou ações que reduziram riscos fiscais e melhoraram a percepção do mercado.
Durante a reunião organizada pelo Deutsche Bank, Campos Neto detalhou que os prêmios de risco cobrados sobre a dívida brasileira são superiores aos fundamentos econômicos do país, reflexo da percepção de instabilidade nas finanças públicas. Ele frisou que os resultados fiscais e a dívida brasileira são comparáveis a outros mercados emergentes, embora a posição inicial do Brasil em relação ao endividamento seja mais alta.
Campos Neto também chamou atenção para as recentes pressões sobre o orçamento nacional, como as despesas ligadas ao enfrentamento das mudanças climáticas e os programas de transferência de renda criados durante a pandemia. Segundo ele, com o aumento das taxas de juros globais, o custo de rolagem da dívida torna-se um desafio adicional para o país.
Além disso, o presidente do BC observou que a falta de produtividade afeta muitos países, exceto os Estados Unidos, e alertou que a baixa produtividade representa um risco à economia global. Ele defendeu que políticas voltadas à oferta são essenciais para melhorar a eficiência econômica e, consequentemente, as condições de financiamento público.
Campos Neto também abordou a questão do crédito direcionado, particularmente a influência de empréstimos subsidiados feitos por bancos públicos, como o BNDES, na política monetária. Ele argumentou que o aumento do crédito por meio de taxas de mercado não altera o juro neutro — a taxa que equilibra a economia —, mas, ao contrário, taxas subsidiadas por bancos estatais podem impactar o custo financeiro e a confiança no ambiente monetário.
Ao finalizar, Campos Neto enfatizou a importância de evitar despesas parafiscais que gerem expectativas negativas sobre a dívida pública, defendendo uma gestão fiscal mais transparente e responsável para viabilizar cortes de juros sustentáveis no longo prazo.



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