A falsa soberania, nas linhas da esquerda
- Carlos Dias

- 10 de ago.
- 5 min de leitura

Recebi em um grupo que participo formado por brasileiros vigorosos do agronegócio, um texto que entendo ser recente em função do tema, publicado no jornal O Liberal, do Estado do Pará. Ao analisar o artigo de Aldo Rebelo, “Brasil, Estados Unidos, diplomacia e soberania”, o que se revela não é uma análise diplomática isenta, mas um sintoma eloquente da cegueira voluntária que aflige parte da suposta inteligência nacional. Aquilo que à primeira vista se apresenta como uma crítica às imposições externas, desdobra-se, sob um investigação mais atenta, em uma omissão absurda dos verdadeiros nós que amarram a soberania brasileira e, pior, em uma defesa oblíqua de agendas que servem a interesses estranhos à nação.
A discussão sobre “tarifas comerciais”, apresentada como o cerne das tensões com os Estados Unidos, é, na melhor das hipóteses, uma cortina de fumaça, e na pior, uma farsa deliberada. As sanções impostas são, de fato, consequências diretas de uma política externa que flerta perigosamente com regimes violadores de direitos humanos e com potências revisionistas de valores do Ocidente cristão. O alinhamento geopolítico do Brasil com a Rússia, a China e o Irã, para não mencionar a vergonhosa e estreita proximidade com o narco regime venezuelano de Maduro, é a substância do problema, não meras contendas comerciais. Ignorar essa realidade e reduzi-la a uma disputa tarifária é uma ingenuidade imperdoável ou uma conveniência calculada.
É particularmente instrutivo observar que Aldo Rebelo, figura com uma longa trajetória no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – uma agremiação de base e inspiração chinesa –, curiosamente mantém um silêncio eloquente sobre agressões diretas ao direito internacional, como a invasão da Ucrânia pela Rússia. Essa omissão não é um lapso; ela se coaduna com um histórico de profunda vinculação ideológica. Surge, então, a questão inescapável: qual “soberania” realmente se defende? Seria a soberania do Estado Nacional, que busca seu autêntico desenvolvimento com base na liberdade econômica e na não-intervenção estatal, ou a de um projeto globalista que utiliza a retórica nacionalista como biombo para pautar o país a partir de interesses alheios?
Aldo Rebelo, em sua “resposta ideal” às sanções, sugere que o Brasil deveria ter defendido seu “rigoroso Código Florestal” como contraponto às acusações ambientais dos Estados Unidos. Essa sugestão, contudo, é a própria negação da lucidez. Como é possível propor a defesa de um instrumento que, em sua essência, funciona como um “imposto invisível sobre a Amazônia”, asfixiando o potencial econômico e estratégico da região, conforme detalhado na profunda análise no livro “Código Florestal: O Imposto Invisível sobre a Amazônia”? Aquele que critica os entraves ao desenvolvimento econômico e social da Amazônia não pode, em sã consciência, brandir o mesmo entrave como escudo de defesa.
A tragédia reside na cegueira de se combater a “interferência externa” enquanto se ignora a subversão interna. Onde reside, de fato, a soberania de uma nação cujas entranhas são corroídas por dentro? Que país pode se dizer soberano quando o narcotráfico age quase que livremente em seu território, transformando fronteiras em corredores para o crime organizado? Quando reservas indígenas, áreas estratégicas e críticas, são efetivamente zonas de exclusão para as próprias Forças Armadas Nacionais, que se veem tolhidas de exercer seu papel constitucional de defesa territorial? Esta inação não é fruto de incapacidade intrínseca, mas de amarras internas que imobilizam a pátria e abrem flancos para a penetração de interesses que fragilizam a capacidade de autodefesa.
Essas barreiras internas são, em grande medida, o resultado da ação de um ambientalismo militante, estranhamente e abundantemente financiado por interesses internacionais cujas agendas não raro se chocam frontalmente com a segurança nacional e o desenvolvimento autônomo. É fundamental entender que essa fragilização não surgiu do nada; ela foi habilmente orquestrada. O ponto nodal, o verdadeiro catalisador dessa subversão, foi o famigerado Código Florestal de 2012. Não é mera coincidência que o relator de tal legislação tenha sido, justamente, Aldo Rebelo.
A partir da vigência dessa lei nefasta, testemunhou-se uma explosão, um crescimento exponencial e assustador, do número de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) no Brasil, o que inegavelmente inclui e amplifica a atuação de entidades ambientalistas, também em regiões estratégicas como a Amazônia. Se em 2005 o país contava com cerca de 150.000 OSCs, esse número saltou para aproximadamente 236.950 em 2016, atingindo a marca impressionante de 815.676 em 2021, e chegando a cerca de 879.326 em 2023, dados obtidos em consultas ao IPEA e ao IBGE. Tal escalada, que se deu significativamente após 2012, revela um salto que não pode ser atribuído ao acaso, mas a uma estratégia calculada de ocupação territorial e de imposição de agendas externas, sob a capa de “preservação”.
Tais entidades, muitas vezes, funcionam como verdadeiras pontas de lança de interesses alheios, transformando vastas porções do nosso território em zonas de influência estrangeira, impedindo a soberania plena. A defesa de um “rigoroso Código Florestal” por Aldo Rebelo, neste contexto, não é um sinal de fortaleza, mas de uma profunda contradição, pois é justamente essa legislação que pavimentou o caminho para a infiltração de interesses que sufocam o Brasil.
Aldo Rebelo acerta ao criticar o avanço do ativismo judicial sobre as atribuições dos outros Poderes, mas a ressalva de que a correção de “mazelas de nossas instituições é responsabilidade dos brasileiros, e não de uma potência” é uma meia-verdade. Sim, a responsabilidade é nossa, mas a omissão em combater a corrupção político-administrativa e o patrimonialismo, que se revelam os grandes desafios do Brasil, cria uma vulnerabilidade que é explorada precisamente por essas potências externas. A fraqueza interna convida à interferência. Não se pode defender a autonomia se não se tem a casa em ordem.
A discussão sobre a nação não pode se dar em termos de “diplomacia” vazia ou de “cooperação” que serve apenas para legitimar a vassalagem. É preciso um discernimento aguçado para reconhecer os verdadeiros inimigos da soberania – aqueles que agem por fora e, especialmente, aqueles que, incrustados nas estruturas nacionais, trabalham para diluir a identidade e a capacidade de autodefesa do país. A firmeza e a clareza moral são inegociáveis.
O artigo de Aldo Rebelo, em sua superficialidade e omissão, é um espelho de uma mentalidade que falha em confrontar a complexidade do cenário atual. Ao focar em meras tarifas e ignorar as raízes geopolíticas e ideológicas das pressões sofridas pelo Brasil, e ao propor a defesa de um Código Florestal que se provou um Cavalo de Troia para a subversão da soberania, ele contribui para uma falsa percepção da realidade.
O Brasil não pode mais se permitir o luxo da ingenuidade ou da covardia intelectual diante de uma ameaça que é, acima de tudo, existencial. A pátria exige que se enxergue a realidade sem véus, e que se lute por uma soberania real, não por uma ilusão confortável que nos conduz à servidão. A Amazônia, com seu inestimável potencial econômico e estratégico, não pode continuar a ser sacrificada em nome de uma pauta ambiental globalista que, sob o manto da “preservação”, inviabiliza o desenvolvimento nacional e abre caminho para a grave desintegração territorial. A verdadeira soberania se constrói com base na liberdade, na defesa intransigente dos interesses nacionais e na coragem de enfrentar as ideologias que, de dentro ou de fora, buscam subjugar a nação.
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